A educação integral deverá contemplar a realidade amazônica, ponto presente no Sínodo da Amazônia
Dom Vital Corbellini - Bispo de Maraba'-PA © CNBB
O Instrumentum Laboris fala da importância da educação integral uma vez que é preciso resgatar a identidade cultural dos povos amazônicos, sobretudo os povos indígenas, pois pertencem a um povo originário e hoje se defrontam com a tecnologia. As raízes desses povos não podem ser esquecidas. Neste sentido a Igreja ao ouvir a escuta dos povos e na valorização da natureza, transforma-se em comunidade eclesial em saída, num igreja irmã, discípula do Senhor Jesus Cristo. O Bispo como fala o Papa Francisco coloca-se à escuta da voz de Cristo Jesus que fala através do povo de Deus (Episcopalis Communio, 5; IL, n. 92).
A educação implica um encontro e ao mesmo tempo intercâmbio de valores. As culturas dos povos possuem uma dimensão pedagógica de aprendizagem e de aperfeiçoamento. O encontro é a capacidade de o coração tornar-se próximo(EG, n. 132) e as aprendizagens múltiplas(IL, n. 93). A educação visa o encontro sendo a superação de cosmovisões que causam pobreza e vulnerabilidade em todas pessoas. Na nossa região amazônica a educação não é a imposição de parâmetros culturais, filosofias, liturgias estranhas. É preciso pensar uma educação que ensine criticamente, como diz o Papa Francisco e ofereça um caminho de amadurecimento nos valores(EG, n. 64) em todos os sentidos da vida familiar, comunitária e social. É preciso valorizar a cosmovisão dos povos indígenas para uma educação a uma ecologia integral que assume todas as relações constitutivas das pessoas e dos povos. É perceber uma ecologia sustentável para as gerações vindouras que supere a degradação ambiental, do esgotamento das reservas naturais e da poluição (LS, n. 111; IL, n. 96).
É fundamental ver a educação para a solidariedade que brota da consciência de uma origem comum como nos fala o Papa Francisco e tem um futuro compartilhado para todos (LS, n. 202). É bom que se diga que os povos indígenas possuem um método de ensino e aprendizagem na tradição oral e na prática vivencial, seguem um processo pedagógico contextualizado. Dessa forma, a Amazônia nos convida a descobrir a tarefa educativa como um serviço para toda a humanidade em vista da cidadania ecológica (LS, n. 211; IL, n. 96). Tal educação tem como ponto fundamental o cuidado com a terra, que está a favor da fragilidade dos pobres e do meio ambiente (LS, n. 209). A perspectiva ecológica leva a uma educação do bem viver, o bem conviver e o bem fazer, para assim ter um impacto significativo na Casa comum (IL, n. 97).
Como sugestões para o Sínodo, colocam-se os planos de formação sacerdotal dos ministros ordenados os quais devem responder a uma cultura filosófica, teológica adequada às culturas amazônicas. Será preciso uma integração da teologia indígena com a ecoteologia, onde tem lugar a evangelização. Os candidatos ao sacerdócio deverão ter presentes os aspectos comunitários, como de fato toda a formação sacerdotal frisa bem este ponto. O Instrumento de trabalho também tem presentes as escolas que levem em conta planos educativos para uma educação conforme as culturas, o respeito às línguas nativas que supere o abandono escolar e ao analfabetismo. Em relação à universidade será necessário valorizar um visão que restitua ao saber humano a unidade na diversidade, em sintonia com uma ecologia integral (IL, n. 98, a,b,c). Será preciso a valorização da teologia indígena pan-amazônica nas diversas instituições educativas. O IL ressalta a importância de aprofundar uma teologia índia amazônica já existente para entender melhor a espiritualidade indígena para superar erros históricos que atropelaram culturas originárias (IL, n. 98, d,1).
Este ponto da educação integral colocará a importância de aprofundar as verdades do Verbo presentes nos povos do campo, da cidade, e povos indígenas para assim evangelizar segundo o coração de Jesus Cristo, e do seu Reino na região amazônica.
Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá (PA)
Fonte: CNBB