Relatório do Círculo Menor Grupo A - Português
CÍRCULO PORTUGUÊS - GRUPO “A”
1. Igreja sinodal: novos caminhos para a missão. O caminho sinodal para a Amazônia nos mostrou que o processo abriu a perspectiva de uma eclesiologia diferente, mais batismal e colegial, diferente da Igreja clerical. A Igreja com rosto amazônico acentua ”na corresponsabilidade e na participação de todo o Povo de Deus participa na vida e na missão da Igreja”. Urge a criação de novos espaços de escuta, de discernimento e participação no exercício da sinodalidade no ser e no agir da Igreja. Por isso propomos: manter o serviço da REPAM. Criar um organismo Episcopal representativo das Igrejas Locais da Região panamazônica, adstrito ao Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM).
2. Ministérios ordenados instituídos no que tange a celebração da Palavra de Deus e Sacramentos, com realce a Eucaristia, se fazem necessários e urgentes. O Sínodo da Amazônia, o Kairós de Deus, é ocasião oportuna para a Igreja se reconciliar com a Amazônia diante da dívida que ela acumulou durante longos anos de colonização. Diante da necessidade de uma Igreja permanente para além da visita, entendemos que é necessário multiplicar nossa presença de Igreja na Amazônia, com novos ministérios. Além dos ministérios de leitor, acólito, Diácono permanente, ministério da Palavra, ministério do batismo, entre outros, pedimos santo Padre, que admita para a região Pan Amazônica, homens ao ministério presbiteral, e mulheres ao diaconato, de preferência indígenas, respeitados/as e reconhecidos/as por sua comunidade, mesmo que já tenham uma família constituída e estável, com a finalidade de assegurar os Sacramentos que acompanham e sustentam a vida cristã da comunidade (IL 102,2). Desta forma, daremos rosto feminino e rosto materno à Igreja.
3. Uma Igreja com rosto amazônico e missionário para os leigos, religiosos, Diáconos, padres e bispos, diz respeito a uma formação inculturada na Amazônia. O protagonismo da Igreja na Amazônia, não pode mais importar modelos. Precisa construir o rosto próprio com formação ampla e integral, a partir da espiritualidade ecológica, Bíblica, comunitária e eclesial, em vista de uma conversão pastoral, sinodal, e conversão ecológica. Diante disso, propomos uma formação que seja planejada, não de improviso contando com equipes de formadores incluindo mulheres. Uma equipe competente auxiliada com a pastoral vocacional buscando servidores da própria região: autóctones, indígenas, ribeirinhos, quilombolas e outros. Propomos também o compromisso de fazer formação permanente e insistir no espírito missionário e espírito de pobreza.
4. A Igreja na Amazônia é formada por muitas comunidades. Muitas vezes muito distantes. As comunidades de base são autênticos espaços de educação da fé comprometida com a vida e a transformação da sociedade tendo como centralidade a pessoa de Jesus Cristo: “caminho, verdade e vida, vida em abundância para todos”. Na comunidade aprendemos a respeitar as diferenças. Conhecemos os movimentos sociais e neles nos envolvemos em prol da justiça e da paz pela prática da caridade. Elas são fruto desde o nascimento da Igreja, apoiadas pelo Concílio vaticano II, incentivadas por Medellin e Puebla. Elas significam um novo Pentecostes. As comunidades de base nos ajudam a superar a pastoral de “desobriga”. Queremos insistir na dimensão missionária das comunidades. Igreja em saída e em estado permanente de missão, assim as comunidades mantém na cidade um diálogo com os conselhos públicos de segurança, de assistência social, conselho da criança e do adolescente, conselho de educação.
5. A migração na cidade e o refúgio de tantos irmãos e irmãs solicitam uma pastoral urbana de acolhida, de proteção, de promoção e de integração no caminho da dignidade humana. Deus habita a cidade. Propomos articular com as agências internacionais para combater o tráfico de pessoas e drogas.
6. Um dos pontos mais nevrálgicos na região Panamazônica é a presença da violência. Em todas as partes enfrentamos este flagelo. Feminicídio em casa, a violência institucionalizada e omissão do Estado. A violência nos presídios e nas escolas. Abuso e exploração sexual. Violação dos direitos dos povos originários. Assassinato dos defensores dos territórios. Narcotráfico e narconegócio. Extermínio da população juvenil. Tráfico de pessoas. Presídios superlotados com frequentes massacres. Ameaças constantes sobre os que defendem a verdade, a justiça sobre os direitos à terra. Diante desta realidade de sangue, a Igreja propõe incentivar as denúncias dando suporte às mulheres. Criar e acompanhar políticas públicas. Propomos a criação de um observatório de Direitos Humanos no território pana-amazônico, ou comissão de Justiça e paz. Comitês diocesanos de Direitos Humanos.
7. Os povos originários na Amazônia pagam com a própria vida, o preço mais alto, porque não assistidos, não protegidos em seus territórios. A Amazônia é o que restou como sobrevivência. É preciso, contudo que sejam apoiados em sua organização para garantir seu direito de permanecer na terra, da qual são os legítimos herdeiros. Propomos para isso: conhecer os direitos garantidos pela constituição de 1988, bem como a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho onde garante o direito de consulta e participação dos povos originários, indígenas, afrodescendentes, ribeirinhos e camponeses e atingidos por barragens.
8. Na Amazônia gozamos de uma biodiversidade ecológica, intercultural, religiosa e espiritual. Sabemos que o diálogo é a ponte para a construção da paz e do “bem viver”. Diante das diferenças propomos um diálogo ecumênico e inter-religioso. “Não haverá paz no mundo se não houver paz entre as religiões” (Hans Kung). Propomos dois colóquios entre os teólogos da RELEP (Rede Latino-americana de Estudos Pentecostais) e os teólogos católicos. Um na Amazônia e outro em Roma. Esses dois encontros, como primeiro passo, serão fundamentais para o aprofundamento do diálogo e unidade em relação a questões comuns: Cristo Jesus, fundamento de nossa fé, bem como a defesa da “Casa Comum”, da Ecologia Integral, da vida e da luta pelas garantias dos direitos humanos, na floresta, no campo e na cidade. Ainda neste ponto acrescentamos o diálogo inter-institucional entre Igreja e Poder Público, com a comunidade política, com os órgãos de tutela da casa comum, do território e dos povos originários.
9. A Ecologia Integral e a cosmovisão indígena vivem o estado de alerta. O risco de extinção dos povos da Amazônia juntamente com a casa comum, nunca foi tão visível como agora, (Papa Francisco em Puerto Maldonado, janeiro de 2018, Peru). Pior situação ainda se encontra a realidade dos isolados. A ecologia integral começa com a defesa e garantia do território para assegurar a vida dos povos originários. Propomos um modelo de desenvolvimento alternativo com qualidade de vida através de cursos de agroecologia. Desenvolvimento de projetos sustentáveis, através de cursos que leve ao conhecimento dos segredos/sagrados da natureza através de escolas de formação em técnicas agrícolas. Propomos desenvolver projetos de reflorestamento – floresta em pé. Propomos projetos alternativos aos megaprojetos, por exemplo: aos projetos de PCHs (Pequenas Centrais hidreletricas) propomos instalar projetos de energia solar. Projetos de extrativismo sustentável. Fortalecer a organização dos Pescadores. Apoiar projetos de reciclagem de lixo. Ecoturismo. Incentivar e acompanhar associações como forma de organização da população. Monitorar os garimpos ilegais na Amazônia. Criar legislação que contemple a natureza como sujeito de direitos.
10. O povo da Amazônia é um povo religioso. A piedade popular. A espiritualidade e sabedoria dos ancestrais e a mariologia trazem uma manifestação própria em sua vida de fé. Para isso pedimos um rito amazônico com patrimônio teológico, disciplinar e espiritual que expresse ao mesmo tempo a universalidade e catolicidade da Igreja, na Amazônia. Respeitar os ritos de cada povo. Bem como resgate de suas lideranças religiosas, (os pajés, os Xamãs).
11. A educação é o caminho para uma sociedade capaz de “bem viver em sobriedade feliz”. Somente uma educação inculturada com elementos dos povos pode favorecer o protagonismo da região. Propomos, desta maneira, a criação de escolas e universidade indígenas com linguística própria. Traduzir a Bíblia e catecismo de IVC. Vamos investir na Educação a distância. Abrir espaços para a escuta dos jovens e preparar pessoas para acompanhar os jovens. Fazer opção pelos jovens.
12. A partir do Concílio vaticano II, a Igreja fez uma opção preferencial pelos pobres e a Igreja da América Latina confirmou esta opção em Medellin, em Puebla, Santo Domingo e Aparecida. Cuidar do nosso lar comum significa cuidar dos seres humanos. “Quão inseparável é o vínculo entre preocupação com a natureza, justiça para os pobres, compromisso com a sociedade e paz interior” (Papa Francisco, LS, 68). “No pobre, Jesus bate a porta do nosso coração e, sedento, pede-nos amor, a omissão é o maior pecado contra os pobres (Papa Francisco Homilia do Primeiro dia Mundial dos pobres). Perder os pobres é perder a Jesus. Por isso, propomos uma Igreja pobre, com os pobres, para os pobres. Igreja solidária e Igreja irmã.
13. Na Amazônia, muitos missionários e missionárias deram sua vida pela causa do evangelho. Encarnaram-se na realidade. Viveram a espiritualidade do Bom Samaritano. Não se acovardaram diante do sofrimento e diante da morte do inocente. Diante dos conflitos por causa da terra não fugiram. Não aceitaram a morte de Cristo na vida do pobre. Foram agentes de mística capaz de profecia e coragem. Muitos tombaram porque não viveram a cultura da religião sem compromisso com a transformação da sociedade. Também não aceitaram rezar diante dos pobres sendo mortos sobre o altar do sacrifício. São os mártires de ontem e de hoje. Diante de Jesus mártir, diante dos mártires, homens e mulheres, propomos o pacto na luta pela verdade, pela organização dos povos e pela defesa direitos com ardor missionário.
14. No rosto humano de Jesus, em Nazaré, Deus se auto-comunica como desígnio total de amor com a razão única de salvar a humanidade inteira mediante a pre-disponibilidade da pessoa de boa vontade através do processo de conversão. Propomos utilizar as redes sociais de comunicação web rádio, web tv e rádios para divulgar as conclusões deste Sínodo. Fomentem a espiritualidade do encontro entre todos os rostos da Amazônia. Divulguem o que acontece na Amazônia principalmente o que diz respeito ao que o projeto destrói a biodiversidade. Anunciem os valores dos povos originários que contribuem com a civilização do amor. Abrir espaços para os indígenas nos MCS. Em tempos fakenews dar a conhecer ao mundo a verdade da Amazônia.