Irmã Cleusa: mártir da justiça e da paz

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Cleusa Carolina Rody Coelho

Irmã Cleusa: mártir da justiça e da paz

Brutalmente assassinada às margens do Rio Paciá, em Lábrea, no Amazonas, onde trabalhava com os Apurinã, irmã Cleusa era radical na opção pelos pobres e intransigente na defesa dos direitos indígenas, gerando a ira dos poderosos locais

I rmã Cleusa Carolina Rody Coelho tinha 52 anos quando foi cruelmente assassinada, em 28 de abril de 1985. Morreu há 31 anos em defesa da terra indígena e buscando a paz na conturbada região às margens do Rio Paciá, na Prelazia de Lábrea, no Amazonas. Coordenava o sub-regional Norte 1 do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), que abrangia as Prelazias de Lábrea e Coari. Atuava para minorar o calvário dos Apurinã, que coincide com a história do extrativismo no Purus. A morte dela não se constituiu num fato isolado, fazendo parte da história regional alimentada pela cobiça, onde os indígenas foram as maiores vítimas. O martírio de irmã Cleusa se confundiu com o martírio histórico do povo Apurinã, que ela morreu defendendo.

Natural do Espírito Santo, irmã Cleusa dedicou 32 anos de sua vida missionária a serviço dos mais empobrecidos, integrando a Congregação das Missionárias Agostinianas Recoletas (MAR). Em 1954 foi uma das fundadoras da casa da congregação em Lábrea. Retornou à cidade em 1979, trabalhando entre os Apurinã até a morte, encomendada por latifundiários e castanheiros, que tinham interesses escusos nas terras indígenas.

A religiosa acompanhava e apoiava os indígenas da região de Caititu, onde se dirigiu ao encontro da morte, após saber do assassinato da esposa e de um filho do tuxaua Agostinho Mulato dos Santos. O responsável direto pelos crimes, o Apurinã Raimundo Podivem, que tinha sido policial em Manaus, vinha tentando acabar com a vida do combativo tuxaua. E a irmã Cleusa era uma pedra no caminho, por isso foi martirizada barbaramente em sua missão de paz. Ao contratar um indígena para executar a ação macabra, os poderosos de Lábrea tramaram gerar mais discórdia na área, emperrando ainda mais o conturbado processo de demarcação das terras indígenas, para se apropriarem das áreas.

“Comprometer-se com o índio, o mais pobre, desprezado e explorado, é assumir firme a sua caminhada, confiante num futuro certo e que já se vai tornando presente, nas pequenas lutas e vitórias, reconhecimento dos próprios valores e direitos, busca de união e autodeterminação. VALE ARRISCAR-SE.” Irmã Cleusa escreveu esta mensagem profética poucos dias antes de ser assassinada. Por causa do compromisso total com os menos favorecidos, tramita no Vaticano a beatificação da mártir da justiça e da paz.

 

Fuente: cimi.org.br